domingo, 16 de outubro de 2011

O PAÍS DO EÇA

A relíquia que eu trago no meu peito
Herdada duma tia Patrocínio
É o país-paris onde me deito
Sem culpa mas também sem raciocínio.

O conselheiro Acácio bem me disse
Nos tempos em que eu era pequenina :
– «O Padre Amaro é mau. Mas que chatice !
Não pode um padre amar uma menina ?...»

E o meu primo Basílio brasileiro
Que foi o pai das minhas sensações!...
E o Mandarim morrendo a tempo inteiro
Num país de rabichos e aldrabões

Carlos da Maia meu primeiro amor
Primeiro livro meu primeiro beijo
Os Maias da cidade não dão flor
E as maias é no campo que eu as vejo.

Ramires d’uma casa ilustre e vasta
Pindéricos raminhos da nobreza
A terra portuguesa ainda não basta
Para as courelas todas da avareza !

E o conde de Abranhos parlamento
E a Vera Gouvarinho a baronesa
Mudam-se os tempos mas não muda o vento
é sempre rococó à portuguesa !

Há cem anos que eu canto esta canção
sem cabeça porém com coração.
Porque o País do Eça de Queiroz
ainda é … o País de todos nós !...

(Poema de José Carlos Ary dos Santos - Música de Nuno Nazareth Fernandes)

http://youtu.be/9uPIX6-6I1o

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