quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

DE DEGRAU EM DEGRAU



Que mais te posso dar ?
Que mais queres tu de mim ?
De mim  nada mais há
já tudo é teu…

Saudades são de ti
ciúmes também são
e até para eu chorar me dás razão

Ternura amor e ódio
tudo é teu
Desprezo, esperança
tudo é teu

E os meus sonhos mortos pelo teu desdém
Ai de mim são teus também, são teus também

Que mais te posso dar ?
Que mais queres tu de mim ?
Eu só tenho de ti mentiras tuas
Se tu ainda queres mais
os restos aí vão
só tenho para te dar o meu perdão !

Canção de Nobrega e Sousa e Jerónimo Bragança. Arranjos e acompanhamento orquestral de Thilo Krassmann.

http://youtu.be/fz4C7bAx81E 

 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

CANÇÃO DE MADRUGAR



De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei

Sei dos teus olhos acesos na noite
Sinais de bem despertar
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Irei beber de ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri
E dei

Dei do meu corpo um chicote de força
Rasei meus olhos com água
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas, alarguei cidades
E construí poetas

E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer
Então
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas
Nem forças, nem cardos, nem dardos, nem guerras
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas
Nem forças, nem cardos, nem dardos, nem guerras
Nem paz !

Poema de José Carlos Ary dos Santos e música de Nuno Nazareth Fernandes


Já ouvi muitas "canções de madrugar", nenhuma tem a força que Simone lhe deu !

terça-feira, 22 de novembro de 2011

FÚRIA DE VIVER



Fúria de viver
Pecados meus
De mais um dia
Com gosto de nada
Nesta ansiedade de refazer
E de vencer
As ilusões que eu sei
Que só me negam a realidade
E por castigo
São sempre verdade

Quero viver
E já nem sei
Se por castigo
Por bem ou mal
O amor
Que sempre foi negado tem
O sabor raro que ninguém
O levará de mim

Fúria de viver
Sentido vão
Desta vontade que não
Finda mais, palavras falsas
Cravo de fel, ingratidão
O meu rosário negro que é a razão
deste sentir, alma em farrapo
dor e solidão

Fúria de viver …

De José Drumond

Acredito que tenha sido um imensa fúria de viver que levou Simone de Oliveira até hoje e até muitos amanhãs !

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ESTA LISBOA QUE EU AMO

Nesta Lisboa que eu amo
Sinto o mar em cada esquina
Esta Lisboa tem ondas
No andar de uma varina
Cidade tão antiga, cidade amiga
Modesta e bela
Varia com as marés
E tem o Tejo a seus pés
A chorar de amor por ela

Cidade de mil cantigas
Nasce a canção como a flor
Na boca das raparigas
Andam cantigas d'amor
Minha Lisboa que te posso dar?
Dai-lhe mais cantigas para ela cantar
Minha Lisboa que te hei-de oferecer?
Dai-lhe mais cantigas para ela aprender

Nesta Lisboa que eu amo
Sinto o mar a cada esquina
Esta Lisboa tem ondas
No andar de uma varina
Cidade tão antiga, cidade amiga
Modesta e bela
Varia com as marés
E tem o Tejo a seus pés
A chorar de amor por ela 


Poema de Fernando Carvalho e Aníbal Nazaré - música de Frederico Valério


http://youtu.be/No_B6DAPXBU

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

NO TEU POEMA



No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira em céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta uma varanda para o Mundo.

Existe a noite
O riso e a voz perfeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os passos inquietos de quem falha
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera do futuro

Poema e música de José Luís Tinoco

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Simone de Oliveira distinguida pela FILAIE

05/11/2011
Pedro Wallenstein, Rui Vieira Nery, Fernando Alvim, Simone de Oliveira e Luís Francisco Rebelo são os novos membros Fórum Ibero Latino-Americano das Artes (FILAIE). A cerimónia decorreu na Casa do Artista, em Lisboa. Candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade não foi esquecida.

Distinguir quem durante toda a carreira sempre defendeu as artes e a promoção da cultura.

Foi com este propósito que Simone de Oliveira, Luís Francisco Rebelo, Fernando Alvim e Rui Vieira Nery foram distinguidos como membros honorários da Federação Ibero latino-americano das artes (FILAIE), numa cerimónia que decorreu no Teatro Armando Cortez, na Casa do Artista, em Lisboa.

Para o presidente da FILAIE, Maestro Luís Cobos, esta distinção pretende reconhecer quem sempre lutou pela cultura.

«O Fórum foi criado com o intuito de potenciar uma rede internacional de pessoas que trabalham em prol da cultura, arte, dos direitos de liberdade», disse, acrescentando:

- Pretendemos reconhecer todos os artistas ibero-americanos que se distinguiram pelas suas qualidades artísticas, humanas e na luta pelos direitos da cultura.

Parceira da FILAIE, a Cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA) pela voz do seu presidente, Pedro Wallenstein, salientou que é fulcral preservar o património cultural e artístico nacional.

«Quisemos ligar as homenagens à questão da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade e, por outro lado, dentro do universo de artistas que representamos, homenagear pessoas que foram muito importantes no passado e que ainda têm um património que todos nós vamos herdar no futuro, assinalando carreiras muito significativas», disse o responsável que também foi distinguido.

 Simone de Oliveira, cantora e actriz de reconhecido valor, não escondeu a sua satisfação por mais um reconhecimento ao seu extenso percurso no mundo das artes.

«Ainda bem que sou homenageada enquanto estou viva e percebo os porquês. Estes porquês passam por lutado pela cultura e pelo civismo», afirmou. «Qualquer pessoa que tem a minha profissão tenta, com certeza, lutar pela cultura, pela verdade, igualdade e pelas coisas que este País precisa. Acho que fiz isso ao longo da minha vida e se entenderam que por causa de todas essas razões mereço um prémio...»,
realçou.

Fernando Alvim, músico de excelência e guitarrista de reconhecido valor,
que colaborou com nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, José Carlos Ary dos Santos, José Afonso, entre outros, considerou esta distinção um estímulo.

«Sinto-me muito honrado e com novo ânimo para fazer mais coisas como compor. É um estímulo», garantiu e acrescentou: «a candidatura do Fado vai ser aprovada, de certeza. Vamos ter o Fado como Património Imaterial da Humanidade. A escolha pode significar um incremento muito grande do Fado a nível mundial e ter mais expansão e reconhecimento.

 ...


 No final das distinções, que contou com a presença do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, foi divulgada uma mensagem de apoio da FILAIE à candidatura portuguesa do Fado a Património Imaterial da Humanidade, promovida pela UNESCO.



O que é a FILAIE?

Criado em 1998, a FILAIE - Federação Ibero Latino-Americano de Artistas, Intérpretes e Executantes – é uma entidade que pretende distinguir artistas que têm prestado, ao longo da carreira, um importante papel na defesa da cultura, das artes, do direito dos artistas, da propriedade intelectual e da promoção e desenvolvimento das actividades artísticas e culturais.


Carlos do Carmos e Carmen Dolores foram alguns das personalidades portuguesas que já forma distinguidas.

domingo, 6 de novembro de 2011

NÃO ME VÁS DEIXAR

Versão portuguesa de "Ne me quitte pas" de Jacques Brel, magistralmente interpretada por Simone de Oliveira, numa perfeita adaptação de David Mourão Ferreira.

Não me vás deixar
importa esquecer
trata de esquecer
o que há-de passar
Esquecer o tempo
dos mal-entendidos
e o tempo perdido
em busca do vento
Esquecer de vez
o que sem parar
nos tenta matar
com tantos porquês
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar

Por mim te darei
pérolas de chuva
dum país sem chuva
que nem água tem
Deixarei tesouros
depois de morrer
para todo te encher
de luzes e de ouro
Um reino farei
onde a murmurar
de sempre te amar
só tu serás rei
Não me vás deixar…

Não me vás deixar
inventar-te-ei
palavras que nem
se podem escutar
E falar-te-ei
de quem por amor
destrói o terror
de todas as leis
E a história de um rei
morto de pesar
por não me encontrar
também encontrei
Não me vás deixar…

Já mesmo se viu
do fundo de um mar
que nunca existiu
o fogo brotar
Acontece enfim
um campo queimado
dar trigo mais grado
que o melhor Abril
E ao cair da tarde
vão-se misturar
sob o céu que arde
tantas cores aos pares
Não me vás deixar…

Não me vás deixar
nada te direi
nem chorar já sei
Vou ali ficar
dali te verei
dançar e sorrir
E escutar-te-ei
a cantar e a rir
Até me sentir
sombra de uma sombra
que há na tua mão
sombra do teu cão
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar

Poema de David Mourão Ferreira e música de Jacques Brel

http://youtu.be/tUb8pg-vpYU

A NOITE E A ROSA

Fiz da noite a rosa
As mãos do pecado
No tempo da rosa
Sorrindo a teu lado
Falei-te por mim
Ouviste por ti
E os ramos surgiram
Depois que te vi
As mulheres da noite
Rasgaram as luas
E eu e tu fugimos
Por todas as ruas
Olhaste o meu rosto
Marcado pela fama
E abriste o teu peito
No fogo e na chama
Pedaços de rosa
Beijaram a cama
Que dói por que dói
Quando o amor nos chama
Pedaços de rosa
Beijaram a cama

Fiz do nosso dia
Depois da partida
Um lago desfeito
Onde deixei a vida
Que a vida eras tu
Os campos da história
Abrindo esta rosa
Chamada memória
Falei com amigos
De ontem como hoje
Chamando o teu corpo
Que em meu corpo foge
E a mãe que eu já tive
Abriu-se no mar
Para que o meu amor
Se fosse deitar
E a rosa era a noite
E a noite era a o dia
Rasgando as palavras
Que ninguém sabia
E a rosa era a noite
E a noite era o dia

Poema de Vasco de Lima Couto.
Ignoro quem foi o compositor da música e, infelizmente, nem tenho a gravação nem consegui encontrar. Se alguém souber dizer-me agradeço desde já.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

NÃO É VERDADE


Cai, como antigamente, das estrelas
um frio que se espalha na cidade
Não é noite nem dia, é o tempo ardente
da memória das coisas sem idade

O que sonhei cabe nas tuas mãos
gastas a tecer melancolia
um país crescendo em liberdade
auréola de trigo e  de alegria.

Porém a morte passeia nos quartos
ronda as esquinas, entra nos navios
o seu olhar é verde, o seu vestido branco
cheiram a cinza os seus dedos frios

Entre um céu sem cor e montes de carvão
o ardor das estações cai apodrecido
os mastros e as casas escorrem sombra
só o sangue brilha endurecido

Não é verdade tanta loja de perfumes
não é verdade tanta rosa decepada
tanta ponte de fumo, tanta roupa escura
tanto relógio, tanta pomba assassinada

Não quero para mim tanto veneno
tanta madrugada erguida pelo gelo
nem olhos pintados onde morre o dia
nem beijos de lágrimas no meu cabelo

Amanhece, um galo risca o silêncio
desenhando o teu rosto nos telhados
Eu falo do jardim onde começa
um dia claro de amantes enlaçados

Não é verdade tanta loja de perfumes
não é verdade tanta rosa decepada
tanta ponte de fumo, tanta roupa escura
tanto relógio, tanta pomba assassinada
NÃO !

Poema de Eugénio de Andrade - Música de Fernando Guerra

http://youtu.be/m0dB5tqFkL0 

ESPECTÁCULO


Não será Alfama
Nem é o Castelo
Diferente da Bica
Não é Madragoa
Mas é espectáculo
Mas é Lisboa
Não é arraial
Nem marcha da rua
Não saiu de Alcântara
Nem é Mouraria
Mas é espectáculo
É fantasia

Não é Bairro Alto
Nem é fado antigo
Que ponha tristeza
Num beijo de amor
Mas é espectáculo
Música e cor
É mundo nocturno
É Paris, é Bruxelas
É Londres, Berlim
New York, Milão
É o espectáculo
É a canção

São as capelines
O rouge e o batôn
São plumas, egrettes
Champanhe e folia
Porque a canção
É fantasia
Luzes, luzes, luzes da ribalta
Cores e projectores
Orquestras e palcos
O ser ou não ser
Porque a canção
É mundo a viver

Varela Silva

domingo, 30 de outubro de 2011

SOL DE INVERNO


Sabe Deus que eu quis
Contigo ser feliz
Viver ao sol do teu olhar
Mais terno
Morto o teu desejo
Vivo o meu desejo
Primavera em flor
Ao sol de Inverno

Sonhos que sonhei
Onde estão ?
Horas que vivi
Quem as tem ?
De que serve ter coração
E não ter o amor de ninguém ?
Beijos que te dei
Onde estão ?
A quem foste dar
O que é meu ?
Vale mais não ter coração
Do que ter e não ter, como eu !

Eu em troca de nada
Dei tudo na vida
Bandeira vencida
Rasgada no chão
Sou a data esquecida
A coisa perdida
Que vai a leilão

Sonhos que sonhei
Onde estão
Horas que vivi
Quem as tem
De que serve ter coração
E não ter o amor de ninguém ?
Vivo de saudades, amor
A vida perdeu o fulgor
Como o sol de Inverno
Não tenho calor

Poema de Jerónimo Bragança - Música de Nobrega e Sousa

ADEUS (Palavras Gastas)

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio
gastámos os olhos com o sal das lágrimas
gastámos as mão à força de as apertarmos
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava, acreditava,
porque a teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos
no tempo em que o teu corpo era um aquário
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos
É pouco, mas é verdade
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras
quando agora digo: meu amor
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Já não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo
e já te disse : as palavras estão gastas !

Adeus …

Poema de Eugénio de Andrade - música de Fernando Guerra