Cai, como antigamente, das estrelas
um frio que se espalha na cidade
Não é noite nem dia, é o tempo ardente
da memória das coisas sem idade
O que sonhei cabe nas tuas mãos
gastas a tecer melancolia
um país crescendo em liberdade
auréola de trigo e de alegria.
Porém a morte passeia nos quartos
ronda as esquinas, entra nos navios
o seu olhar é verde, o seu vestido branco
cheiram a cinza os seus dedos frios
Entre um céu sem cor e montes de carvão
o ardor das estações cai apodrecido
os mastros e as casas escorrem sombra
só o sangue brilha endurecido
Não é verdade tanta loja de perfumes
não é verdade tanta rosa decepada
tanta ponte de fumo, tanta roupa escura
tanto relógio, tanta pomba assassinada
Não quero para mim tanto veneno
tanta madrugada erguida pelo gelo
nem olhos pintados onde morre o dia
nem beijos de lágrimas no meu cabelo
Amanhece, um galo risca o silêncio
desenhando o teu rosto nos telhados
Eu falo do jardim onde começa
um dia claro de amantes enlaçados
Não é verdade tanta loja de perfumes
não é verdade tanta rosa decepada
tanta ponte de fumo, tanta roupa escura
tanto relógio, tanta pomba assassinada
NÃO !
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