Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio
gastámos os olhos com o sal das lágrimas
gastámos as mão à força de as apertarmos
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava, acreditava,
porque a teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos
no tempo em que o teu corpo era um aquário
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos
É pouco, mas é verdade
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras
quando agora digo: meu amor
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio
gastámos os olhos com o sal das lágrimas
gastámos as mão à força de as apertarmos
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava, acreditava,
porque a teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos
no tempo em que o teu corpo era um aquário
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos
É pouco, mas é verdade
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras
quando agora digo: meu amor
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Já não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo
e já te disse : as palavras estão gastas !
Adeus …
Poema de Eugénio de Andrade - música de Fernando Guerra
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